segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Abelhas que não comem pólen

A diversidade que existe entre as abelhas sem ferrão é impressionante.
A maioria das abelhas usa pólen como fonte de proteína. As Apis, a maioria das abelhas sem ferrão, as mamangavas...
Mas existe um grupo de abelhas sem ferrão que parou de usar pólen como fonte de proteína. São espécies que estão dentro do gênero Trigona (o mesmo das arapuás, guaxupés, abelha cachorro, mombucão e etc.). Vou falar de uma espécie especificamente, a mombuca carniceira (Trigona hypogea). Ao contrário do que o nome sugere (hypo vem do grego, significa embaixo/sob e geo, também no grego, significando terra, no sentido de "chão"), nas fontes que encontrei é mencionado que a espécie faz ninhos em cavidades ("ocos") de árvores, vivas (um pesquisador achou um ninho num tronco de pequi, inclusive!) ou mortas, com a entrada feita de resina e barro. São mansas, ao contrário de outras Trigona, como arapuá (T. spinipes) e guaxupé (T. hyalinata).
Em um levantamento da dieta de espécies de abelhas sem ferrão em um local onde havia sido encontrado um ninho de T. hypogea, a espécie nunca foi vista visitando flores. Essa espécie chegou a perder as "cestas" onde outras abelhas carregam pólen (corbículas), de tão especializadas que se tornaram em usar proteína animal. Mas não precisam ficar com nojo, essa proteína é modificada. Uma vez que uma abelha encontra um carcaça, ela "raspa" a carne e a leva até a colônia (na volta ela marca uma trilha de feromônios, e outras abelhas são rapidamente atraídas até a carcaça) e lá ela a deposita em potes especiais. Após isso, abelhas adicionam mel a esse pote. Esses potes ficam abertos por quase 1 dia e então são fechados e ficam por aproximadamente 14 dias, "maturando". Os pesquisadores acreditam que microorganismos presentes no mel (mel de abelhas caracteristicamente contém microorganismos) "processam" essa proteína animal, degradando-a. Eles abriram potes em diferentes estágios de "maturação" e foram vendo a transformação que a carne sofre ao longo do tempo. Logo que é adicionada ao pote, ela é uma massa mastigada, com a mesma cor que tinha no local onde as abelhas a coletaram; após isso, vai se tornando um fluido viscoso e no fim está clara, com aparência de mel, amarelada e homogênea. Elas não usam carniça, mas sim carne, que ainda não está se decompondo. Nenhum traço de carne podre foi encontrado nem nos potes e nem em nenhum outro local no ninho da T. hypogea.
Outra coisa interessante nessa espécie de abelha sem ferrão, é que elas foram observadas atacando as larvas de um ninho de vespas que havia sido abandonado. Lembram do que falei, sobre os sistemas de comunicação das abelhas sem ferrão? Pois é, essa espécie tem um sistema de comunicação tão eficiente, que foram capazes de encontrar essas fontes de proteína mais rápido que formigas (!). Larvas de insetos são uma fonte limpa e indefesa de alimento. Portanto, bem interessante para as abelhas. E os pesquisadores ainda especulam, baseado no modo "sofisticado" com que as abelhas tiraram proveito dos ninhos de vespa, que esse comportamento deve ser comum nessa espécie de abelha sem ferrão e que talvez as larvas sejam um complemento importante na dieta delas.
Uma abelha fantástica essa! Infelizmente nunca a vi. Não tenho fotos de ninhos pra colocar...

Bibliografia:

- Camargo, J.M.F. & Roubik, D.W. 1991. Systematics and bionomics of the apoid obligate necrophages: the Trigona hypogea group (Hymenoptera; Apidae: Meliponini). Biological Journal of the Linnean Society 44: 13-39.
- Mateus, S. & Noll, F.B. 2004. Predatory behavior in a necrophagous bee Trigona hypogea (Hymenoptera; Apidae: Meliponini). Naturwissenschaften 91:94–96.
- Noll, F.B., Zucchi, R., Jorge, J.A. & Mateus, S. 1996. Food collection and maturation in the necrophagous stingless bee Trigona hypogea (Hymenoptera: Meliponinae). Journal of the Kansas Entomological Society 69(4): 287-293.


Um comentário:

  1. Amigo me ache no face Fábio Ortiz ( veterinário)
    Para trocarmos dicas e experiências.

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