sexta-feira, 22 de novembro de 2013

As diferenças ajudam a manter a diversidade

Outro dia falei da agressividade entre as abelhas sem ferrão, o que acaba fazendo com que espécies com estratégias diferentes visitem mais um tipo de planta, de acordo com quantidade de flor e distribuição dos indivíduos dessas plantas. Fiquei com medo de isso virar uma justificativa pra saírem por aí matando abelhas, então resolvi falar um pouco mais sobre fatores que ajudam a manter todas as abelhas coexistindo e sobrevivendo, mesmo que haja conflitos.
Além do tipo de distribuição das plantas, as abelhas também "repartem" os recursos em relação a altura das fontes onde buscam esses recursos. Algumas espécies visitam plantas mais altas e é interessante (mas não inesperado) que em estudos sobre a comunicação das abelhas sem ferrão, espécies que preferem árvores mais altas conseguem comunicar a fontes dos recursos interessantes de forma bem eficiente; espécies que vão em árvores de tamanho intermediário não são tão boas e abelhas que vão em plantas baixas não conseguem comunicar a altura.
Aqui embaixo peguei um gráfico que mostra a dieta de duas espécies de abelhas sem ferrão asiáticas em diferentes tipos de vegetação. Vejam a grande diferença.

Aqui vocês vêem duas espécies (barras pretas e cinzas) e a proporção de pólen de plantas de diferentes vegetações. Canopy= copa de plantas altas. Understory= plantas que ficam embaixo dessas plantas altas e Gap= plantas que ficam fora da mara, em locais abertos e menos sombreados.

A preferência por determinadas plantas também ajuda a dividir os recursos e acho que está no mínimo indiretamente relacionado ao que falei acima. Enquanto essa espécie T. melanochepala, preferia pólen de plantas da família da fruta pão e araticum (Annonaceae), a outra, T. fuscobalteata tinha uma preferência enorme por pólen de plantas da família da mandioca e coroa de cristo (Euphorbiaceae).
Além disso e também não é muito fácil separar a causa do efeito, houve diferenças no arquitetura das flores preferidas pelas abelhas. Enquanto algumas iam em flores mais "fechadas", outras preferiam flores mais abertas.
Então, ao invés de se matar abelhas que julgamos ser agressivas, é melhor ter mais plantas. Plantar árvores, arbustos e ervas, de diferentes tamanhos, diferentes famílias, com flores de diferentes tamanhos, formatos e cores. Todo mundo sai ganhando, não só as abelhas sem ferrão, mas também outras abelhas, pássaros, morcegos e assim por diante. Tudo começa com plantas. Quanto mais planta e quanto mais tipos de plantas diferentes, melhor. Isso é um ciclo. "Plantamos plantas", que vão atrais polinizadores e gerar frutos. Os frutos vão atrais animais que comem esses frutos (como os morcegos), que vão dispersas as sementes e fazer com que mais mudas nasçam. Sem contar os bichos que vão chegar querendo comer os polinizadores e os dispersores e os bichos que vão querer comer os bichos que comem os polinizadores e dispersores. Mas faz parte, a natureza é assim. O problema é quando começamos a ter só uma espécie. Só uma espécie de planta, só uma de abelha (lembram da preocupação dos EUA com a morte das Apis?), só uma de dispersor... não é assim que funciona. Aí "dá merda".
Li esse post aqui. Por que as plantas tão dando certo? Aposto que mutias abelhas visitam essa casa, chamadas pelas plantas. Podem ou não ser as abelhas sem ferrão, as que criamos em caixas, mas não importa quais são, o que importa é que elas existem na região e devem estar aumentando bem a produção de sementes daquelas plantas e contribuindo muito pra essa "mata fora de controle" que tudo acabou virando.
Aqui em casa tenho um pé de pitanga. Deve ter uns 8 anos. Passou um tempão em um vaso, coitado, e há uns 5 ou 6 anos coloquei na terra. Ele dava poucas pitangas, mas há 1 ano e meio mais ou menos, estou criando abelhas sem ferrão e a quantidade de pitangas aumentou tremendamente. Não só frutos de pitanga, mas de muitas outras plantas, como funcho (ou erva doce).

 Bibliografia:

- Nagamitsu, T., Momose, K., Inoue, T. & Roubik, D.K. 1999. Preference in flower visits and partitioning in pollen diets of stingless bees in an Asian tropical rain forest. Researches on Population Ecology 41: 195- 202.

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